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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Eu e o morro, o morro e eu...

Muitos dizem que na vida você é o que escolhe ser, mas é muito fácil falar de escolha quando você
pode escolher o que vai comer, beber ou vestir, o problema é quando a única opção que te resta
é passar fome, abandonar os estudos para tentar descolar uma grana...essas coisas as pessoas não falam, não ligam, afinal não é uma realidade pra elas mas pra nós, que nascemos e crescemos aqui no
morro, essa  por muitas vezes é a única realidade que conhecemos. Aposto que seu primeiro pensamento ao ler minha palavras foi : mais um negro pobre me enchendo. Não te culpo por pensar dessa maneira, pois infelizmente essa é uma realidade do país em que vivemos, sou negro, pobre, moro no morro. Meu nome é Jhonny, meu apelido, Saci, isso porque gostava muito de aprontar uma bagunça, mas minha vida logo mudou quando o João, meu irmão mais velho foi morto em uma troca de tiros entre a polícia e os traficantes do morro, desde então a vida têm sido dura, saí do colégio para arrumar um emprego, afinal, era meu irmão quem colocava algum dinheiro em casa. Depois que meu pai foi embora, minha mãe se tornou uma alcoólatra viciada em pó. Por sorte sempre tive muitos
amigos por aqui, consegui um trampo na padaria do Batata, cara gente boa. Ele não pagava muito bem, mas era o que tinha. Trabalhei com ele por muito tempo, até o dia em que eles mataram o Batata por falta de pagamento da ''patrulha''. Era assim que chamavam, os traficantes não deixavam nada acontecer a você ou ao seu estabelecimento desde que pagasse por isso, afinal nada é de graça. Foi nesse momento que minha vida mudou, sem emprego e sem estudos, eu me vi numa encruzilhada, sem saber pra onde ir. Minha mãe já estava devendo muito pros caras lá do morro, quase morremos algumas vezes, foi aí que me ocorreu a ideia: vou trabalhar pra eles, assim pago as dívidas da minha mãe e sobra uma grana. Falei com o chefe lá o Brinquedo, e ele logo topou, afinal e´sempre bom ter alguém em quem colocar a culpa caso aconteça qualquer coisa.
O trampo era fácil, só entregar e receber, passava a quantia pra outro cara e daquela grana dez reais eram meus, eu sei, parece pouco, mas quando você pensa na quantidade de entregas, o pouco vira muito.
Eu estava feliz, meu único pensamento era o dinheiro que eu estava ganhando, e quando você ganha tanto dinheiro fácil assim,, a última coisa que passa pela sua cabeça é deixar isso pra trás e encontrar um emprego em qualquer outro lugar, porém minha vida ia se complicar ainda mais, mas eu nem pudia imaginar o quanto.

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