Levamos vários
meses bolando o plano, tudo deveria ser perfeito, ele não podia
escapar.
Eu não podia me
aproximar, afinal o Brinquedo já tinha pedido minha cabeça ou informações de
minha localidade e esse foi o erro dele, eu o conhecia muito bem, sabia que viria
pessoalmente para acabar comigo, pois como ele sempre dizia, não
gostava de pontas soltas. O Duda passaria a
localização pra ele, mas ele não é tão burro, ia mandar alguém para confirmar antes, eu estava lá
onde o Duda falou, em uma parte baixa do morro, sentado com minha
arma na mão enquanto esperava pelo Brinquedo. Passadas algumas
horas ele chegou, todo cheio de marra acompanhado de seu dois
capangas que ficavam abaixo de
mim. Eu sabia que ele não
chegar atirando, era confiante demais pra isso e também ainda viria
o discurso: “Você sabe que
não é nada contra você, simplesmente não posso permitir que um
zé-ninguém tenha mais admiradores que eu. É tudo uma questão de
negócios”. Enquanto ele falava,
segurava sua arma, balançando de um lado para o outro e ao mesmo
tempo, meu pessoal foi se
organizando, cada um no seu devido lugar, exceto um. Quando comecei a rir
e levantei minha arma, senti um calor nas costas, uma dor,
sangue…alguém me traiu. Olhei para
trás e lá estava o Duda, uma das poucas pessoas com quem eu
realmente contava. “Você achou mesmo que não sabia de nada, achou
que iria me pegar disparecido?” É claro, ele sabia
de tudo que acontecia naquele morro, eu que me descuidei em confiar
nas pessoas mas como dizia minha mãe, no morro só existem dois
destinos possíveis: ou você sai morto ou vai preso. Ali eu caí,
ali eu morri, acreditando que poderia ajudar as pessoas, melhorar um
pouco o buraco em que elas vivem. O morro te consome, toma sua alma e
depois te joga na merda e já não há nada que você possa fazer.
Assim termina minha história, o fim é previsível, mas é isso que
se vê por aqui, não podemos continuar assim. Se você mora no seu
condomínio com segurança e toda essa porra, não se esqueça
“aquele que nasce no morro não tem a mesma vida ou escolha que
você” pense antes de nos julgar.